sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

NATAL - UMA PAUSA PARA REFLETIR SOBRE NOVOS CAMINHOS


Querença

Perdi-me no deserto do vocabular.
Aonde vão dar estas setas brancas,
que as garças trazem todas as tardes?
Vou seguir o sopro das asas,
quem sabe encontre um recado de uma borboleta...

Sigo adiante,
afundando pegadas, nas folhas vazias de palavras.

Vem chegando a noite,
de ventos a poetar parênteses...
Deixo a estrela da sorte derramar-se sem um pedido;
se estivesse atento, lhe pediria um verso.

Alvorece, nas costas da noite.
O galo, na torre da igreja,
confunde o sul com o norte,
mas adivinha os meus pensamentos.

A casa do joão-de-barro
faz pender o braço direito do Cristo no cruzeiro,
ele aponta o chão onde eu sempre estive.
Chão de pedra...,
a mesma pedra dos dias,
que, sorrateira, me tampou os poros que perspiravam
[o sal criativo.

Sento-me no banco da praça,
e calço os meus sapatos qual Curupira,
quero que os olhos dos pés me guiem.
Vou insistir em inventar caminhos.

A boca aponta o sentido,
os pés, o instinto (o ido e lido).


Tropeço em buracos
nos ladrilhos verdes de história.

Rastelo o orvalho com os dedos
e o espalho na boca
para umedecer a palavra.

Apesar de lidas e relidas,
as brumas sabem dizer de amenidades.

Esfrego em minhas mãos um punhado de terra.
Terra de cheiros complexos:
Sedimento de pétalas, mijo,
Estrume do gado que pastou tranqüilo na madrugada.
Pegadas dos homens,
Que, através dos séculos,
Se faziam pesadas ao chegarem ao adro,
E partiam confiantes, com a bênção do DIVINO.

Por detrás da janela de um dos casebres geminados,
(aquele pintado com heras, entre o azul e o rosa,
marcialmente enfileirados em torno da Matriz),
um olhar assombrado
reflete o calor que chega do leste.
É um menino alado
baforando sonhos úmidos na vidraça.

Roubo daqueles olhos o que já foi meu;
só assim abro o portal
para o caminho serpenteado das palavras.


Lavras Novas, Minas Gerais

(Verdes Versos)


Para aqueles que, no curto espaço de tempo da criação deste Blog, estiveram presente com seu comentário e, principalmente, com seu olhar, um FELIZ NATAL e um ANO NOVO pleno de SAÚDE e POESIA.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ranhuras


Situo meus devaneios
entre as pregas das mãos;
onde o sumo do limão
deixou marcado meio-dia.

(Para não dizer que não falei...)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Por que as mariposas buscam insones?



Já os olhos dos homens seguem calados.
Perdidos de tantas vidas,
em seu longo jejum de atitudes
imersos em suas existências omissas.
Parasitas de sóis e estrelas
vidro fosco entre o luar e a razão.

A indiferença a essa luz que os perpassa
prenuncia o ser cego,
inclinado a parecer correto,
desterrado,
que se deixou na terra
a invejar os colibris.

Por que as mariposas buscam insones
o brilho no olhar da criança?


Morte às mariposas!!!?
Morte às crianças!???
Roga o olhar do homem em lágrimas,
o fim da poesia.


(Verdes Versos)

sábado, 8 de dezembro de 2007

A árvore genealógica

Enterrou seu filho, sua mãe e seu marido, entrou em casa e trancou a vida do lado de fora. Colocou o insulfilm mais escuro do mercado em suas janelas e fechou-as.
O barulho das ondas, anunciando o incansável ciclo das marés, não penetrava aquele esquife, elas não podiam rivalizar com sua sede de passado.
Na árvore genealógica de metal colocou as fotos de seus homens.
_ Quem visitasse aquela casa poderia entendê-la através daquela árvore.
Sentou-se em sua cadeira e passou a cultivar sua árvore com a energia de sua saudade. Em três níveis daquele tronco metálico saiam galhos aonde pendiam as cabeças dos homens perdidos.
O primeiro galho trazia a imagem de seu filho primogênito, aquele que ela já havia deixado para trás, no esquecimento de seu passado de menina e, que ao saber de sua existência, veio buscá-la para lhe presentear com sua morte. A segunda imagem, a do filho do meio; aquele que ansiava por ser amado, mas que foi preterido pelo homem que ocupava também um lugar naquele galho. O terceiro e último homem daquele galho, seu marido em foto ainda jovem, sempre com aquele belo sorriso galanteador, representava a esperança de uma vida nova para aquela jovem operária, mãe de dois filhos, perdida em meio ao preconceito naquela São Paulo do final dos anos 50. Com ele construiu enfim sua vida, uma família, e deixou para trás, pendurados naqueles primeiros galhos suas primeiras imagens, para quem sabe, no futuro-agora poder olhá-las com ar de sofrimento. Seguiu então seu caminho e novos galhos surgiram em sua árvore que, como ela, também envelhecia.
Naqueles dois galhos, os dois homens de sua vida. Não que os demais não fossem importantes, prova era que pendiam nos galhos de sua existência. Mas para esses, tinha programado, mesmo que de forma inconsciente, algo especial e definitivo: eles seriam os alicerces para sua tranqüilidade. Mas quem pensa a vida assim, de forma tão inocente, vê a verdade como tragédia.
E foi assim que ela teve de colocar mais uma vez a foto de seu homem-marido naquela árvore... No dia em que eles comemoravam mais um ano de cumplicidade, ele calmamente, com aquele velho ar de quem está sem saber que está, fez a barba, sorriu e partiu para o fim absoluto nos braços de seu único filho.
Eis que surge então o último personagem de sua genealogia, o filho ambicionado, idealizado, sua semente definitiva. Mas aquele fruto não pôde ficar assim pendendo naquele galho a mercê de seus suspiros; como todo fruto, esse também partiu para buscar outras terras. Surgiu assim o último grande galho de sua árvore, forte, capaz de suportar o peso de sua maior perda.
A foto daquele filho colocada assim, como se reinando, acima de todas as outras, é de um valor simbólico único, diria até psicanalítico; quantas mães não construiriam assim suas árvores, mas não ousaram fazê-lo?
Fica ela ali sentada, passando os dias a admirar retratos. Não importa que alguns daqueles homens, ali expostos, ainda estejam vivos, não importa... Afinal, eles não são mais o ideal desejado, o ideal esta ali, exposto, na sua árvore de retratos.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Mármore



Não deixe que se esgotem as dúvidas.
A pretensão da certeza endireita;
tira a beleza de ser torto.

(Verdes Versos)