sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Borgiana II
Repousa o veludo da pele
tigre selvagem,
nessa distante gleba
a qual chegastes por caminhos incertos.
Lembranças grisalhas, velho tigre ...
Compartilho teus dentes nada castos...
Restou-nos o passado...
E suas páginas
de bordas marcadas.
Sempre reviradas, velho tigre,
para não esquecer de outros dias.
(O que nos resta quando o orvalho se perde no esquecimento?)
Nas catedrais, teu ouro roubado.
Depois raspado dos pilares
para cobrir os dentes.
Como se sorrir dourado
os fizesse arremedo de gente...
(Quanto de tua mordedura permeia nossos sonhos?)
Não se traduz o mistério de tuas escápulas,
nem a névoa em teus olhos...
Quem sabe a milonga nos taquarais
ou tuas listras obliquas,
resistam ao imprevisível fim.
Tardam as horas ...
Cada expectativa tem teu cheiro.
E se esforça
para caber no poema.
Jorge Elias Neto
Vitória, 29 de outubro de 2010
Postado por Jorge Elias às 8:08 PM 0 comentários
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
CONVITE PARA LEITURA - PORTAL CRONÓPIOS DE LITERATURA BRASILEIRA
Convido para leitura do texto com poemas que
publiquei no Portal Cronópios de Literatura Brasileira.
Forte abraço para todos.
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=4775
Postado por Jorge Elias às 10:33 PM 2 comentários
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Íntimo
Ondas guardadas,
não devolvem o gosto de sal
aos lábios despidos
de lembranças.
Deixados sós,
os lábios,
não se desviam do destino.
Mas o súbito tranco
da cancela dos dentes
intimida o deslizar da língua.
Hóstias - estrelas
no firmamento
da boca -
aprisionaram o desejo.
O corpo se abre
e se fecha
à partir da boca.
Os lábios escancaram
um vermelho escandaloso;
e se cala.
Postado por Jorge Elias às 9:14 AM 4 comentários
Marcadores: Poema
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Borgiana I
Atiro os cacos
do espelho partido.
Busco-os no chão,
onde as imagens já se dispersaram.
Com o que resta na moldura,
brinco de cortar os dedos,
encaixando respostas
no rosto trincado.
E se, no entanto, a figura
se assemelha ao medo,
remisturo todo
o ser desfigurado.
Pois a faina louca
de remexer segredos
fez-me encontrar as sombras
dos dias passados.
Jorge Elias Neto
Vitória, 05 de outubro de 2010
Postado por Jorge Elias às 12:43 PM 5 comentários
Marcadores: Borgiana I, Poema
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Despedida
Existe uma impossibilidade
nas flores que brotam
na boca da menina adormecida.
Mas a menina apenas dorme
com a ilusão do beijo
brotando entre os dentes.
Jorge Elias Neto
nas flores que brotam
na boca da menina adormecida.
Mas a menina apenas dorme
com a ilusão do beijo
brotando entre os dentes.
Jorge Elias Neto
Postado por Jorge Elias às 8:39 AM 9 comentários
Marcadores: Poema
domingo, 3 de outubro de 2010
Arquétipo – Um facho de luz sobre a sombra
"Nenhuma circunstância exterior substitui a experiência interna. E é
só à luz dos acontecimentos internos que entendo a mim mesmo. São
eles que constituem a singularidade de minha vida".
Carl Gustav Jung
O que se dispersa além dos olhos
diz do vacilo de não se ter sorvido o tempo.
Estarei na ultima idade.
Quando ruir a biblioteca
não restará mais nada.
Sem nenhum escrúpulo, já estarei
a mijar nas calças todas as cervejas
que pensei esquecidas.
Aprenderei que não só a memória,
mas também a bexiga dos velhos,
despejam seus guardados...
E como ancião,
terei em meus ouvidos um ruído agudo
a dizer da morte ...
(esse crepúsculo atravessado na garganta).
Mas minha memória recente, sempre desatenta,
privilegiará as flautas de antanho,
olvidando a impertinência dos últimos segundos.
Saberei que retive com primor
uma certa dignidade burguesa.
Execrada nos versos.
Denunciada no franzir da testa.
Em minha face retalhada,
Será definitivo
o rendado da ironia.
Recearei de alguns saberes, sem dúvida.
Mas um cristão tardio, espero não ser.
Lembrar: não fechar o ciclo previsível de tantos homens.
Não me permitir, ao menos, essa contradição.
Jorge Elias Neto
só à luz dos acontecimentos internos que entendo a mim mesmo. São
eles que constituem a singularidade de minha vida".
Carl Gustav Jung
O que se dispersa além dos olhos
diz do vacilo de não se ter sorvido o tempo.
Estarei na ultima idade.
Quando ruir a biblioteca
não restará mais nada.
Sem nenhum escrúpulo, já estarei
a mijar nas calças todas as cervejas
que pensei esquecidas.
Aprenderei que não só a memória,
mas também a bexiga dos velhos,
despejam seus guardados...
E como ancião,
terei em meus ouvidos um ruído agudo
a dizer da morte ...
(esse crepúsculo atravessado na garganta).
Mas minha memória recente, sempre desatenta,
privilegiará as flautas de antanho,
olvidando a impertinência dos últimos segundos.
Saberei que retive com primor
uma certa dignidade burguesa.
Execrada nos versos.
Denunciada no franzir da testa.
Em minha face retalhada,
Será definitivo
o rendado da ironia.
Recearei de alguns saberes, sem dúvida.
Mas um cristão tardio, espero não ser.
Lembrar: não fechar o ciclo previsível de tantos homens.
Não me permitir, ao menos, essa contradição.
Jorge Elias Neto
Postado por Jorge Elias às 9:09 PM 0 comentários
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