Jorge Elias Neto
Posso me dizer
um veterano. São doze copas do mundo ... Posso me dizer, com tranqüilidade,
médico, louco e técnico. Afinal, sou brasileiro, onde o pão e circo se equipara
à Roma dos Césares.
Não me lembro da
copa de 66, tinha então 2 anos ... Mas da copa de 70, apesar de não lembrar dos
jogos – os quais acabei decorando, tantas vezes que assisti os vídeos ao longos
dos anos (acabei guardando um selo histórico com a ilustração do soco no ar do
divino Pelé ...) – lembro-me bem de sair com meu pai, jogo à jogo, na Avenida
Jerônimo Monteiro e Avenida Beira-Mar ao som dos gritos e fogos. Alguém, por
favor, me confirme se é delírio de criança, ou tiveram mesmo aquelas luzes no
Penedo para receber o nosso Fontana ...
Fiquei abismado
por saber dos “Noventa milhões em ação”. Já estava impressionado com os
programas do Amaral Neto mostrando a Trans-Amazônica (e lembrar que meu irmão
estava por lá com os irmãos Villas-Boas...). E dá-lhe “verde, amarelo, branco e
azul anil. Eu te amo, meu Brasil, eu te amo...” E dá-lhe ditadura militar das
aulas de Moral e Cívica no Colégio do Carmo ...
Veio 74 e o
carrossel holandês... O Cruif e irmãos Vanderkerkhoff ... Mas o que me marcou
foi a comemoração de um gol do Brasil. Dei um soco no ar e quebrei o lustre de
cristal de minha mãe, corri e me joguei de joelho na sala (apenas me esqueci do
tapete sintético que me causou queimaduras nas canelas) e, finalmente, peguei
minha bandeira verde e amarela, corri para janela e desfraldei nossa flâmula
para gritar um gol extasiado ... Olhei para baixo e só vi foi o vizinho do
oitavo andar acender o pavio do fogo de artifício ... Tirei a cara, ouvi o
estrondo e sentei arrepiado de medo na poltrona da sala. Passei a ser mais
comedido em minhas comemorações.
E chega 78 dos irmanos ... Fiquei com aquele jogo do
Peru entalado na garganta. Vai entender o que se passou com o orgulho dos
herdeiros do império Inca ... Acabei de lembrar que ainda não conheço Matchu-
Pichu... Uma lástima.
As copas de 82 e
86 me pegaram de calça curta. Encontrava-me no auge do fanatismo pelo futebol.
Confiante com o excesso de craques ... Tínhamos uma grande seleção. Todo jogo
nos reuníamos no Argentino com uma batucada de dar gosto – isso foi em 82. Já
em 86, contavamos com a compreensão do Pirão que deixava aqueles jovens
universitários beberem todas e batucar na frente do seu restaurante (e ele nem
imaginava que, naquela época, nenhum de nós tinha grana para pagar por sua
excepcional muqueca ...). Mas aquelas copas acabaram sendo duas grandes
decepções...
As outras copas
... Das outras copas tratarei depois ... Isso é óbvio, se alguém está interessado
em saber das memórias de um cronista entre quase 200 milhões de fanáticos
torcedores ...
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