segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Breve dicionário poético do boxe - Novo livro

Caros amigos:

Estaremos realizando no próximo mês o lançamento do meu novo livro de poemas " Breve dicionário (poético) do boxe pela Editora Patuá.
Para aqueles interessados em adquirir o livro basta acessar o link abaixo:http://editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=294

Em breve divulgarei o convite para o lançamento que será realizado na Biblioteca Pública do Estado do Espirito Santo.

Grande abraço,

Jorge Elias.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A fábrica de nuvens


                                                         PONTA DE TUBARÃO

Roubaram-me a linha do infinito. Não posso mais ver o mar despencar no vazio, vejo apenas uma fábrica, um porto e os navios. Como é possível ser poeta sem o interminável? Mas dá-se um jeito – aprendi isso com o tempo.
E, nesse caso, bastou olhar, em um fim de tarde, para os lados do Tubarão e ver a chaminé da fábrica. Ela, de um fôlego inabalável, me disse: “Aquela nuvem que passa lá em cima sou eu”... Música antiga, caros saudosistas ... E eu olhei a nuvem. E tenho olhado desde então como ela compõe o céu de minha terra, como ela consegue, impassível a tudo e a todos, manchar de cinza até mesmo aqueles dias em que desvio dela o olhar maravilhado com o céu de brigadeiro onde não sopra o vento nordeste.
Em dias de chuva, de nuvens grossas e cinzentas, parece que, com o orgulho ferido, ela acrescenta  algo  mais à escuridão do dia.
E nas noites ... Ora amigos, olhem para a fábrica de nuvens durante a noite. Sob o tom que o céu assume devido às milhares de lâmpadas ligadas, ela se exibe como diante de holofotes, parecendo competir com a lua pelo protagonismo da noite.
Seria só isso se não fosse a meticulosidade da fábrica de nuvens. Pois ela também é discreta e, não fosse o artista Kleber Galveas mostrar, ano após ano, que a tela é o cinzeiro da pós-modernidade, nem os cidadãos que se pintam de preto na orla de Camburi, ela bem que tentaria passar ao menos um pouco despercebida.
Resolvi então copiar o inabalável artista da Barra do Jucu. Fiz um experimento.
Pintei de verde o cacto enegrecido de minha casa. Como o artista, usei as mãos – pois, em meu caso, a tela possuía espinhos.
Confesso que os poucos espinhos não me feriram mais do que minha mão enegrecida.
Mas, na minha soberba de homem, senti ter pintado de verde o cacto que persiste em minha varanda. Como fosse eu Tistou, o menino do dedo verde, a pintar de verde a superfície das plantas asfixiadas. Quisera ter o dedo azul para pintar o céu e um dedo-borracha para apagar de vez a cor cinza que paira, impune, sob o céu de minha Terra.

Jorge Elias Neto


sexta-feira, 3 de julho de 2015

NOTURNO

Noturno



                                         O impulso carrega
                                            uma promessa dos pés
                                                      


Andava
 confortavelmente 
no escuro
 ( sentia o calor
        das coisas mortas)

(Quem o pariu foi o vento nordeste
               assustado
               com o apito do navio)

Nas mãos
a lista dos homens tristes
e linhas tortas
 desencontradas

A seu lado
uma inútil sombra
 essa mundaneidade

Tinha a noite
e a paz das sarjetas abandonadas

O Mundo
acontecia dentro dos olhos

Deus   
era imagem ausente  
à margem da fábula

O corpo
   acaso assombroso 
rompeu a escuridão
da Ilha morta.



Jorge Elias Neto

sábado, 16 de maio de 2015

Imensidão


Letra miúda, essa, do tempo,

caber o risco do vento

o uivo, o eco,

toda delicadeza dos voos dispersos

e restar espaço

para tantos sonhos na inocência

de uma infância.

Jorge ELias Neto

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Le risque - Hommage à Charlie Hebdo caricaturistes

Le risque 

                                                                                                               
          qui donne la richesse de perdre ?
               


                                           Auteur :Jorge Elias Neto
                                           Traduction: Francis Juif


Le risque était libre.
Il vivait sans Père,
sans Patrie.

Indéchiffrable,
il frétillait au moindre
indice de calligraphie.

Il ricochait sur les dalles,
se sortait à peine échaudé des querell
e set sans résidus de lettres.

Le risque ne le savait pas,
mais il était hédoniste.

Il se servait du camouflage
des incompris.

Rusé,
il créait ses fausses pistes.

Le risque était tantôt relâché,
tantôt tendu ;
ses intentions n'étaient pas claires.

Insaisissable,
il ne se laissait pás
marquer avec des mots.

Incorrigible,
il ne connaissait qu'une peur:
la discontinuité.

Il se créait dans le silence,
ne laissait pas de traces.


Il choisit la clandestinité

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Poema em homenagem aos cartunistas assassinados em Paris - do livro Rascunhos do absurdo

O risco
 


O risco era solto.
 
Vivia sem Pai,
sem Pátria.
 
Indecifrável,
esperneava ao mínimo
indício de caligrafia.
 
Ricocheteava nos lajedos,
saía chamuscado das rusgas,
mas sem resquícios de letras.
 
O risco não sabia,
mas era um hedonista.
 
Usava a camuflagem
dos desentendidos.
 
Serelepe, 
causava seus descaminhos.
 
O risco, ora era frouxo,
ora era tenso;
seguia desmoldando intenções.
 
Era corisco,
não se deixava
ferrar com palavras.
 
Incorrigível,
só tinha um temor:
a descontinuidade.
 
Criava-se no silêncio,
não deixava rastros.
 
Optou pela clandestinidade
ao abandonar o traço.